FOI ASSIM...

Malu Otero

Na televisão Benson preto e branco,

Eu vi imagens que me assustavam,

Anunciadas pelo Repórter Esso...

Eu pensava que pelo menos estava a salvo,

Vivendo no interior com a proteção de meus pais.

Ah, estava a salvo do mundo em Bragança Paulista,

Estava a salvo do mundo porque eles existiam...


Retornando em dois anos para a Grande São Paulo,

Fui viver em Santo André, a cidade do trabalho,

(Me encantava mais que a cidade o seu hino,

Com o verso "Em teus lares há pão e agasalho"...)

Continuei estudando na escola pública, o SESI.


Pequenina, vivia o matutino ritual,

Na entrada da escola, o hino nacional.

Em vários locais o retrato do presidente,

Quadros bem visíveis, olhar imponente...

Na época me pareciam deuses

E eu decorava os seus nomes,

Alguns tão difíceis, como o do presidente

Emilio Garrastazu Médici.

Eu me lembro do seu olhar dominador,

Emblemático com a faixa presidencial...


Passaram-se os anos, continuei em escolas públicas,

Eram as mais concorridas.

Era um orgulho estudar no Américo Brasiliense

E eu estudei lá...

Mas só depois de muito tempo pude perceber,

Que apesar de ter aprendido muito

Sobre teorias, filosofia, ensino,

(Terminando o colegial fiz o normal),

Mas apesar de tanto, havia lacunas!



Nunca tinha havido debates políticos

Ou referências a determinadas filosofias:

Materialismo, comunismo ou qualquer tipo de ismo.

Não havia espaço, não havia...

Pude ter consciência disso só na etapa seguinte,

Quando continuando meu percurso na escola pública,

Ingressei na Universidade de São Paulo...



No ano anterior tinha acontecido a morte

De Wladimir Herzog e havia nervosismo no ar.

O Centro Acadêmico fazia incursões

Nas salas de aula, convocando para reuniões

Ou para alguma marcha...

Fazíamos análise marxista da literatura,

Líamos e estávamos voltados para a análise.

Mas era um cuidado eterno no falar,

Poderia haver consequências indesejáveis...



Então, pude passar um ano de encantamento,

Ouvindo de Antônio Cândido seus ensinamentos.

Foi quando pude finalmente crescer.

Outros mestres também me fizeram enxergar...

Vivi o medo que a época impunha viver,

Mas tornei-me uma pessoa preocupada,

Como docente, em investir no efeito multiplicador,

Num pensamento próprio e criativo no aprender e viver.



O tempo trouxe oportunidades de satisfazer

A paixão de ensinar o espanhol e o fiz,

Num comunicativismo crítico embasado

Em Paulo Freire e também Almeida Filho,

Isso tudo foi na Unesp, campus de Assis...

Sempre com o desejo de que o outro pudesse

Ser crítico, comparar, compreender e crescer,

Como eu pude ao chegar à universidade.

Quis apagar limites, que não houvesse lacunas,

Mas já podíamos fazê-lo sem repressão,

Na mais completa LIBERDADE.


Assis, São Paulo, BRASIL



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