Quantas vezes nos julgamos inspirados e afinal escrevemos
apenas palavras numa página, palavras que depois olhamos
e achamos que nos são completamente estranhas,
como se não tivéssemos sido nós a escrevê-las.
Descobrimos então que as outras, as verdadeiras palavras,
nos secaram, áridas, no coração e nos dedos.




Palavras secas

Eugénio de Sá


Secaram-se as palavras nestes dedos

Que outrora as faziam deslizar

Lestas, fluídas, querendo poetar

As idéias, os sonhos, os segredos...



Talvez que um dia voltem a brotar

Destas mãos de poeta entorpecidas

Pelos desencantos desta e d’outras vidas

Que aos poucos as fizeram bloquear.



E ao olhar o espaço ora vazio

Que, sem palavras, vago se apresenta

O meu olhar é cada vez mais frio.



Lembro então a sentença bolorenta

Velha, qual côdea que fede a bafio:

A poesia perdida não mais acalenta!


 
 
Copyright©2014
ArtedesignerMenezes®
webdesignerCandySaad®
Todos direitos reservados