ASCESE
Ariovaldo Cavarzan
Viajo em
desvãos do infinito,
ora fazendo alarde e ora abafando o
grito,
feito aluvião que se esvai,
inaudito,
em irremediável desvario,
arrastando consigo beira de rio.
Sou centelha divina,
imortal chama inteligente,
preexistente ao meu corpo
e a ele sobrevivente,
no derradeiro instante da sina.
Singro vagas contritas,
sensível aos lances da lida,
amparando-me em chispas benditas.
Montanhas ecoam silêncios
de indigentes amores idos,
relegados ao léu dos
desfiladeiros.
Corações aflitos acendem
velas
de bem evocadas saudades,
crepitando soluços de ternas
vontades,
evolados em preces, iguais a
aquarelas.
Feito fagulha imortal,
imperturbável sigo meu caminho,
vogando recônditos de paz e
aflições,
em rascunhos de infindas paixões,
sem jamais sentir-me sozinho.
Muitos sóis já aqueceram meus
dias;
a muitas estrelas declarei serem
minhas
e a muitas luas já revelei meu
amor.
Sou
imorredoura e imperturbável flama,
divina e inteligente chama,
que faz ofegar um coração
renitente,
à espera, tão só, do instante,
de outra vez ao infindo ascender,
penitente.
06/03/2011
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