Medo da Descoberta Helô Abreu Quem sou eu na escuridão deste palco da Vida? Alguém ai da platéia me vê ou me escuta? Na escuridão do palco, na doce labuta do atuar constantemente, meu corpo flutua em luz soberba e etérea, como se eu fosse lua! Este corpo que envelhece e se nega aparecer para mim, eu que sou a tua senhora,
que comigo encenou
tantos quadros, outrora
tantos dramas, tantas comédias, lágrimas e viver.. Oh! Deus não te escondas de mim nesta hora em que tenho medo da platéia gloriosa Dize-me quem sou neste mundo de gente impiedosa? Serei a vilania? a torpeza? a sordidez? a maldade .....quem sou afinal sem Ti? Paciência..preciso dela para sobreviver neste teatro ensandecido repleto de escaras nesta troca eterna de máscaras, neste olhar no espelho e temer o reflexo da malfadada sorte , neste palco que rodopia, e quando o cenário desce e a platéia oscila, estende o polegar para baixo e grita...Morte! As cortinas se fecham....permaneço no chão caída A didascália fala ao meteur-en-scéne: -Ela teme um espaço sagrado chamado vida muda as faces, disfarça, agita, consome vive a vida num eterno palco, destruída. Sem platéias, sem aplausos, só cortinas de veludo púrpuro barato e roto, onde se esconde, nua, do mundo real, temendo saber quem é , de não ser perfeita, ideal e no escuro, ouve-se um som doido será som? ...ou apenas um mero vagido!
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